Para ser franco, a maratona em si é a cereja do bolo. Em meu caso, um bolo de aniversário, pois comemorei o meu no dia posterior à corrida. Uma festa!
Mas as condições atmosféricas não eram as mais favoráveis, pois o frio era de doer.
Por estarmos na Flórida, onde o inverno não tem fama de ser forte, nem de longe esperávamos enfrentar o frio que encontramos. Me lembro que nos dias que antecederam a prova, eu treinava pela manhã bem cedo, mas me sentia um doido maluco por sair de uma cama quentinha para brigar contra um vento que batia com força em meu rosto. Minha nossa!
Mas enfim, chegou o grande dia! Lá, o ritual da corrida é todo especial. Muito cedo, de madrugada mesmo, praticamente em plena noite escura, aquele povo todo já vai para o local da largada, respeitando um esquema logístico impecável. De todos os parques saem ônibus que nos levam até Epcot Center, o local da largada.
Era a primeira vez que corria essa maratona, então se havia alguma preocupação, certamente ela não se relacionava com a minha performance. Eu queria mesmo é desfrutar de toda aquela festa. Levava comigo uma câmera fotográfica e não hesitaria nem um pouco em parar para fazer fotos com meus heróis de infância, adolescência e mesmo de minha vida adulta.
O frio não me abandonou em nenhum instante. Prova disso é que corri o tempo todo com um pequeno objeto, parecido com uma mini almofada bem apertada em minhas duas mãos e aquilo se aquecia em contato com a pele e as mantinham protegidas do inevitável congelamento. Minhas roupas não eram as de um corredor, pois incluíam duas calças e duas blusas de frio. Pensei que me livraria de pelo menos uma durante a corrida, mas isso não aconteceu.
Mickey, Pateta, Pato Donald e muitos outros personagens entraram para uma coleção inusitada das fotos especiais que fiz durante a maratona. Vários minutos aumentaram o tempo final de prova, mas eu não os trocaria por nada naquele dia muito especial. Foi um presente antecipado de aniversário do qual nunca mais me esquecerei.
Algumas oportunidades aparecem em nossas vidas e acredito que nossa missão nesses momentos é única e exclusivamente não perdê-las de modo algum.
Assim também ocorreu quando me engajei no projeto de uma nova fábrica de resinas, quando eu ainda estruturava minha carreira na única empresa em que trabalhei como funcionário.
Que eu estaria no projeto dessa fábrica, isso eu já sabia há tempos, porém tive um papel muito importante e gratificante, o que me levou à liderança da mesma, após sua inauguração.
No início, meu líder na época, talvez um dos mais significativos e relevantes que tive, ia me pedindo pequenos estudos, os quais nem sempre eu compreendia plenamente, mas me empenhava em cada momento.
Com o passar do tempo, eu já conseguia agregar contribuições mais relevantes e meu papel foi se consolidando.
Tudo era bastante complicado e os obstáculos surgiam de diversas formas. Mas o prazer de estar naquela longa empreitada era tão grande que eu não via o tempo passar.
Após a fase inicial que incluiu até mesmo a enorme frustação ao saber que minha participação numa viagem técnica à Alemanha havia sido cortada por questão de custos e um pouco mais à frente ter sido notificado que a liderança da futura da nova fábrica já tinha novo dono e que não seria eu, enfim, nada disso me desanimou.
Segui firme em minhas atribuições simplesmente porque me sentia muito motivado. Nem digo que fui resiliente, pois não havia espaço em minha mente para qualquer tipo de desânimo.
Em determinado momento, assumi a liderança de uma fábrica existente, bem mais antiga. A partir de então, eu tive que me dividir. Na verdade, o projeto já caminhava para uma fase na qual as minhas contribuições já não eram tão intensas. Minha maior contribuição ocorreu na definição inicial dos parâmetros do projeto. Agora, começava o detalhamento e eu ainda continuava acompanhando tudo. Nesse momento, o desenvolvimento de meu perfil de liderança de pessoas ganhava maior prioridade.
Lembro-me bem da construção do prédio, aliás de cada coluna. Depois vieram os equipamentos maiores e a montagem.
Então tive a chance que tanto esperava para voltar à Alemanha. Foi uma viagem extremamente importante para minha vida profissional e lá tive a oportunidade de conversar bastante com um colega que havia vivido alguns anos antes a mesma experiência que eu também vivenciava naquele momento. A diferença é que ele havia se tornado o responsável pela planta e eu já sabia que esse não seria meu papel quando o projeto se encerrasse. Será mesmo?
Bom, isso não significava nada para mim. Por isso, segui em frente.
Lembro-me também que meu colega alemão recomendou que eu cuidasse da história da construção da nova fábrica como um verdadeiro guardião. Disse isso e mostrou detalhes de como ele havia feito o mesmo em seu projeto.
Voltei ao Brasil e, cada vez mais eu me apropriava de meu papel nos caminhos que nossa equipe seguia.
Como na maratona da Disney, fotografei muitas coisas, registrei tudo no nível máximo que pude, comemorei cada pequena conquista alcançada pelo projeto, até o momento tão esperado chegar.
A fábrica foi inaugurada e, embora problemas comuns dessa fase não faltassem, tudo correu conforme planejado.
Durante a produção do primeiro lote de um produto real, uma resina alquídica à base de óleo de soja, eu permaneci por cinquenta e seis horas no ar. Dormia sentado nos pequenos intervalos de descanso, mas ninguém saiu da fábrica até que a tal resina ficasse pronta.
Ao final, seguindo as recomendações de meu colega alemão, guardei uma pequena amostra em um vidro, no qual colei uma etiqueta com a identificação: Primeiro lote de produção do produto de nome tal e a data.
Momento mágico, missão cumprida de modo inesquecível e um final mais do que feliz, pois após tanto tempo e tantas reviravoltas, coube a mim a responsabilidade de me tornar o primeiro gerente da fábrica de resinas mais moderna da América do Sul na época.
Melhor que isso, somente o abraço do Mickey Mouse após cruzar a linha de chegada de minha mais exótica maratona… até então.
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