A grande diferença desta prova em relação às anteriores é que eu já havia incorporado aos meus treinamentos uma certa disciplina, a qual me deixava bem tranquilo nos momentos que antecediam a prova em si.
Foi a primeira vez que a Maratona de São Paulo começou seu percurso em um lugar bem diferente, passando pela bela Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, inaugurada no mês anterior.
Além disso, o clima estava diferente, um pouco chuvoso, o que não me agradava. Sempre gostei de correr sob temperaturas mais amenas, ou talvez frias mesmo, mas a chuva não era meu ambiente preferido para correr. Mas, enfim, quem gosta de corrida de rua não escolhe muito não. E lá estava eu com mais de doze mil loucos de dez países diferentes correndo pelas ruas de São Paulo.
Aquela agradável sensação nunca mais me deixou. Ainda bem!
Desde o momento da inscrição, a retirada do kit, a manhã da prova e outros momentos que pertencem a esse ritual de correr uma maratona, sempre foram muito caros para mim. E dessa vez não foi diferente.
Não choveu durante a corrida, apesar do chão permanecer molhado durante todo o tempo. Eu estava bem e completei com tranquilidade o novo percurso em quatro horas e quarenta e três minutos, um tempo bom para meu perfil considerando as dificuldades do trajeto, repleto de subidas e descidas.
Eu vivia um ano interessante. Minha carreira como consultor seguia relativamente bem e eu consegui naquele ano ser eleito para o maior papel institucional de toda a minha carreira como líder da rede brasileira do Pacto Global das Nações Unidas.
Tenho consciência de que sem minha amiga Gilda Pessoa, também corredora, eu nunca teria sido escolhido para tão importante missão. Sem contar que ela seguiu ao meu lado durante quase três anos de meu mandato. Gratidão!
Foi algo indescritível liderar a maior iniciativa de responsabilidade corporativa do mundo em meu país. Estar ao lado das principais empresas, universidades e instituições num esforço conjunto para levar a sustentabilidade aos negócios, à educação e evidenciar a importância dos dez princípios fundamentais da iniciativa foi uma das maiores experiências de toda a minha vida.
Na época, tínhamos poucos recursos e nosso objetivo principal era mudar o modelo de governança para que a rede brasileira se fortalecesse. Lutamos pela sua institucionalização, todavia o caminho para isso precisaria de muito mais tempo.
A integração com a ONU (PNUD) no Brasil foi fundamental e estou certo de que isso, entre outras coisas, fortaleceu o movimento em prol da sustentabilidade no país.
Durante o tempo em que pude liderar essa rede, tive muitas dificuldades e grandes foram as resistências para gerar a mudança que era necessária.
Como já era um consultor, cheguei até a escutar que promovia mudanças para meu próprio interesse. Isso era mentira, pois nunca ganhei um tostão pelo que pude fazer. Mas algo é verdade, cresci muito como líder e como profissional.
Além disso, conheci a iniciativa em diversos outros países por ser uma iniciativa das Nações Unidas. Um presente valioso nesse processo foi conhecer e interagir com pessoas simplesmente maravilhosas da África, da Ásia, da Europa, da América, enfim, do mundo todo. Lembro-me de todos os rostos e nunca me esquecerei do carinho que tiveram comigo. Se consegui ajudar em algo, foi muito pouco perto do que recebi.
Evidentemente, meu histórico na empresa BASF deu a credibilidade que sempre precisei, principalmente no início do desafio.
Hoje, ao olhar para as atuais lideranças e também o que estão fazendo com o foco nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, fico muito feliz.
Desejo que continuem assim e saibam que certamente estarei sempre pronto para contribuir, mesmo que meu alcance seja deveras singelo em comparação ao que as grandes lideranças e organizações já estão fazendo.
Sem que eu consiga controlar, esta lembrança traz ao meu rosto o mesmo indisfarçável sorriso do momento em que cruzei a linha de chegada ali no Parque Ibirapuera.
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