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Foto do escritorVitor Seravalli

Maratona Romântica - Füssen, Alemanha


Minha opção pelas corridas de rua é uma das maneiras com que busco uma vida mais sustentável.

Isso significa que o maior objetivo está mais relacionado com saúde, lazer, e com aspectos sociais e ambientais, do que com performance e recordes. Enfim, a grande prioridade está mesmo no valor agregado à qualidade de vida.

Porém, agregar benefícios culturais a tudo isso, pela integração entre as corridas de rua e minhas viagens, foi algo que descobri casualmente durante uma viagem a trabalho.

Soube da realização de uma maratona justamente na cidade onde eu estaria, e pensei comigo: “Por que não?”.

Fiz minha inscrição, corri, e gostei tanto, que a partir daquela experiência, passei a fazer a mesma coisa também nas viagens particulares.

Para ser mais franco, o processo se inverteu. Ou seja, na medida do possível, criei o hábito de procurar maratonas pelo mundo afora, e elas se tornaram o ponto de partida para a organização e viabilização financeira de um roteiro qualquer que as incluíssem, evidentemente, sempre com o suporte de uma ótima companhia.

E não é que ficou divertido?

Até agora, incluindo as provas locais, foram 17 maratonas. E espero que ocorram muitas mais.

Neste ano, a maratona escolhida foi uma prova praticamente desconhecida, mas que já está em sua 13ª. edição. Trata-se da Maratona Romântica dos Castelos Reais, na cidade de Füssen, no sul da Alemanha.

Essa pequena cidade é muito visitada por causa de seus castelos, e dizem que um deles, o castelo de Neuschwanstein, serviu de inspiração para a construção do castelo da Cinderela em Disney World na Flórida.

Eu vinha treinando menos que o necessário. E como a viagem foi um longo tour de automóvel por diferentes países, quando possível eu calçava meu par de tênis, e saía pelas ruas.

Por incrível que pareça, esse tipo de preparação totalmente não convencional acabou se tornando uma de minhas melhores experiências, desde que comecei a correr há mais de onze anos.

O primeiro treino foi na cidade de Nuremberg na Alemanha, um lugar histórico para quem conhece algo sobre a 2ª. Guerra Mundial.

O segundo foi em Viena na Áustria, com muito sol apesar de ter sido pela manhã bem cedo.

Fiz o terceiro treino em Budapeste na Hungria, onde não sabia se corria ou se ficava fotografando aquela beleza toda.

O quarto treino leve aconteceu na surpreendente cidade de Dubrovnik na Croácia, atualmente um dos locais mais procurados para uma viagem de turismo em toda a Europa.

A quinta corridinha foi em Liubliana, capital desse pequeno e lindo país chamado Eslovênia.

E, finalmente, o último treino foi na cidade de Siena na Itália, com a sensação nítida de uma viagem ao passado.

Nada mal. E apesar do cansaço físico que todo esse movimento me causou, cheguei inteiro àquela cidade dos sonhos. Estava curioso para conhecer a dimensão da estrutura que havia sido montada para o evento.

Para minha alegria, encontrei uma tenda não muito grande, quase nenhuma fila, contudo com uma altíssima concentração de gente simpática por metro quadrado. Realmente, os voluntários que estavam dando o suporte necessário aos corredores mereceram nota dez em todos os quesitos.

Não havia nada parecido com as feiras que são montadas para as grandes maratonas, mas admito que isso não fez falta alguma. Após uma recepção tão acolhedora, minhas maiores expectativas se moveram para o percurso.

Quando me registrei para o evento na internet, as fotos já mostravam que esse seria o ponto alto da corrida, e eu estava há poucas horas para confirmar isso pessoalmente.

No final daquela tarde, apesar de ter um cupom para um prato grátis na própria tenda da organização, a escolha por uma massa leve em um simpático restaurante ali no centro de Füssen foi o jantar ideal. Além disso, as mesas ficavam do lado externo, num local privilegiado, para que pudéssemos assistir à largada da meia-maratona e da corrida de dez quilômetros que ocorreu pontualmente às 18:30 hs.

Tudo o que eu desejava àquela altura era arrumar as coisas e dormir bem. Felizmente, fui atendido com plenitude.

Às 6:45 hs da manhã, eu já estava tomando meu café da manhã dentro da tenda.

Fui para o local da largada, e rapidamente me misturei com os outros corredores, e também com alguns animados alemães em seus trajes típicos.

Exatamente às 7:30 hs, e não poderia ser diferente na Alemanha, a maratona foi iniciada.

Após poucos minutos, já foi possível sentir a simplicidade e o ambiente rural da corrida. Metade dela seguiu por ruas ou ciclovias asfaltadas, mas a outra metade ocorreu por trilhas em meio às florestas da Baviera. Sem contar que 60% do percurso foi percorrido às margens de dois lindos lagos com cor verde clara.

Uma paisagem deslumbrante foi desfrutada por cerca de 550 maratonistas, a maioria evidentemente formada por alemães, mas com participantes de vários países, entre os quais, fui o único brasileiro.

Logo no Km 10, uma pequena surpresa. Vi que meu relógio Garmin indicava bateria fraca, e isso me obrigou a controlar o ritmo de passadas sem a noção precisa de tempo e dos batimentos cardíacos. Creio que o desconectei da energia elétrica em algum momento.

Nunca isso tinha acontecido, e imaginei que pudesse ter problemas mais adiante.

Segui em frente, e embora corresse sozinho em vários trechos de trilha, de vez em quando eu me encontrava com pequenos grupos de pessoas que incentivavam os atletas, sempre com generosos copos de água nas mãos.

A cada parada, uma rápida troca de palavras amáveis, e sempre uma expressão de alegria quando eu dizia que era do Brasil. É, no mínimo, digno de nota perceber o quanto somos tratados com um carinho diferencial em alguns países.

O percurso foi sempre bastante plano, e em alguns momentos ele se virava em direção aos Alpes. E pensar, que durante o inverno, aquilo tudo se transforma em uma paisagem totalmente branca pela neve.

Não era esse o cenário naquele dia. Pelo contrário, a partir do Km 30, começaram a aparecer alguns aclives, e o sol de um pleno verão europeu lembrou-me de mais um detalhe importante que havia sido esquecido em minha preparação: estava sem qualquer proteção solar.

Apesar disso, eu seguia animado rumo ao final da prova, e nem uma abrupta subida na entrada da cidade tirou o meu ânimo. Cruzei a linha de chegada sob aplausos, e já com a minha preciosa medalha nas mãos, não escondi um discreto sorriso de satisfação por mais essa conquista.

Em resumo, somente o hábito de correr já é algo muito bom, mas para mim tornou-se também um ótimo pretexto para viajar a novos destinos, conhecer pessoas interessantes, entrar em contato com outras culturas, comer boa comida, e beber sempre um ótimo vinho.

Sem contar o perfeito e completo city tour de 42 quilômetros, que já vem incluso em cada viagem.

Em todos os treinos, e também durante a maratona, eu mantive sempre comigo a minha inseparável câmera fotográfica, e para que uma experiência rara como essa não pudesse ser esquecida, fiz todas as imagens que pude enquanto corria.

Essas imagens satisfazem duas vontades pessoais minhas: a primeira é o prazer de sempre poder me lembrar de tantas paisagens lindas que pude ver de perto; e a segunda, que essa experiência sirva de inspiração para que muitos outros atletas saiam por aí a correr pelas ruas do mundo, ruas que parecem terem sido feitas exclusivamente para nós corredores.

Vale também ressaltar que um valor adicional dessas viagens é a chance de correr por caminhos com um nível de segurança, limpeza, e respeito ao corredor, bem acima do que estamos acostumados. Para mim, são reflexos de um entendimento maior sobre o que significa cidadania e sustentabilidade nas cidades.

Sobre o meu tempo de prova? Ah! Isso não importa muito. O que importa é ter chegado bem, e ainda com muita energia para continuar a viagem.

Aliás, essa viagem deu para mim algo ainda maior que a experiência dessa maratona. A coletânea de imagens e muitos outros detalhes foram integrados à história de meu primeiro romance já publicado, cujo título é: Sem Você. Assim aqueles que quiserem viajar um pouquinho mais, o convite está feito. Boa corrida! Ou melhor. Boa leitura!

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