Maratón de Punta del Este
- Vitor Seravalli
- 2 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Por diversos motivos, sempre quis conhecer o Uruguai, este país vizinho, cujo povo e sua cultura sempre me atraíram, muito além de seus ótimos vinhos. Por exemplo, como torcedor de futebol, reconheço que alguns jogadores uruguaios deixaram um importante legado na história de meu clube de coração, algo que nenhum outro jogador brasileiro conseguiu ultrapassar.
Enfim, agora eu teria a chance de conhecer o Uruguai, mesmo que rapidamente. Mais que isso, poderia desfrutar um pouco de sua gastronomia e correr 42 Km pelos caminhos da bela Punta del Leste.
Antes de viajar, aluguei um carro para que pudéssemos vencer a distância não tão grande entre Montevidéu e Punta com maior flexibilidade. Logo que chegamos ao aeroporto, vimos que o veículo que nos acompanharia era o mais básico possível, aliás, nos pareceu que a locadora somente possuía aquele veículo, um Hyunday antigo e tão pequeno que quase nem comportava nossa mala para um fim de semana.
Mas, nem reclamamos, pois o que queríamos mesmo era conhecer um pouco do país.
Tudo muito simples, acolhedor e agradável. Como sempre digo, as viagens são sempre valiosos presentes que as pessoas decidem se dar e, feliz, me incluo entre elas.
Passamos a sexta-feira na capital do país, admirando a arquitetura antiga com suas ruas centrais movimentadas. Fiz um treino leve às margens do Rio da Prata, um rio que mais se parece com um mar, e encerramos a noite num agradável jantar no restaurante Rara Avis ao lado do famoso e histórico Teatro Solis.
Começamos bem e continuamos assim quando seguimos por 130 km ao nosso objetivo, a turística cidade de Punta del Leste na manhã seguinte.
Após nos hospedarmos, saímos para explorar pelas redondezas.
Vimos muitas casas luxuosas, sendo que algumas são verdadeiros monumentos como Casapueblo, uma casa escultura totalmente branca, lindíssima, obra do pintor e escultor Carlos Villaró. Dizem que essa casa inspirou Vinicius de Morais, de quem era amigo pessoal, a compor a música infantil “A casa”.
E finalmente chegamos ao local da retirada do kit da corrida, nada menos que o Conrad Punta del Leste, um cassino e hotel 5 estrelas impressionante, mais ou menos o Copacabana Palace deles. Obviamente, não nos hospedamos lá, pois era muito barulhento para um atleta concentrado como eu.
A corrida em si foi bastante tranquila. Larguei bem cedo e como o número de participantes não era grande, a sensação de correr sozinho me acompanhou em vários trechos do percurso. Parte dele nos dava o prazer de olhar para o mar aberto já com a presença de um sol de final de inverno. Em seguida, entrávamos em um trecho entre muitas árvores e residências mais afastadas, a essa altura com boa distância entre os atletas.
Num ambiente tão acolhedor, mais uma vez consegui alcançar com tranquilidade a linha de chegada, dentro de minha meta abaixo de 5 horas, mais precisamente 4 horas, 58 minutos e 36 segundos.
Certamente, é sempre muito bom poder contar com algum controle sobre nossas capacidades.
Profissionalmente, a partir de determinado momento de minha carreira e com certo nível de segurança, percebi que essa competência se tornara uma desejável companheira de jornada.
Não que isso significasse qualquer sinal de displicência, pois isso me levaria ao fracasso certo, mas a percepção de me sentir preparado para enfrentar meus desafios menores ou maiores foi algo que sempre me fortaleceu.
São vários os exemplos que carrego em minha história e sei que isso não é um privilégio somente meu. Afinal, nós humanos, somos capazes de aprender e, sendo assim, incorporamos capacidades e competências que compõe nossa principal estratégia para vencer.
Um singelo exemplo é a situação em que sou professor. Domino o assunto e já nem me lembro quantas aulas ministrei. Mas quando surge uma nova classe, a confiança que me acompanha, não dispensa a melhor preparação prévia possível, com atualização dos conhecimentos, concentração e, finalmente, a mentalização dos meus objetivos. Mesmo com a inevitável “dorzinha de barriga”, não me lembro de nenhuma oportunidade em que eu tenha me decepcionado, tampouco meus alunos.
Por outro lado, não é raro encontrar pessoas que não se sentem seguras do que podem enfrentar e muitas vezes desistem, ou pior, nem se movem para encontrar soluções para os seus mais rudimentares problemas.
A boa notícia é que sempre podemos incorporar aprendizado. E às vezes isso significa humildemente algo que eu definiria como “aprender a aprender”.
Assim como tudo pode dar errado, apesar de nos sentirmos poderosos antes do embate, também é possível reverter situações nas quais, inicialmente, nos imaginamos incapazes de resolver alguma situação desafiadora. Mas ao final, descobrimos o segredo, desvendamos o enigma, e nos surpreendemos pela alegria de termos enfrentado nosso bicho papão.
Se nos defrontamos com o problema mais difícil da nossa vida ou mesmo uma simples maratona, o importante é não desistir, ou melhor, definir uma meta, elaborar um plano e seguir em frente até o fim, mesmo que isso demore muito mais que as 5 horas, assim como são minhas maratonas.
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